Parabrasileiro


De minha casa, agora um cativeiro, avisto pela janela o Estado ainda chamado Brasil. A república que, por alguns dias, se entrega por inteiro à metade esquecida de si própria. Como aquele brasil, que nós deste lado convencionamos tratar como paralelo, é, então, o brasil vigente, os que se tratam por homens de bem experimentam a sensação de estar ilegais. Dessa forma, meu cativeiro se transforma em cela, e minha pena se faz merecida.

Hoje, não posso declarar o orgulho de minha brasilidade, como espera o Governo. Sou um pária social, pois não contribuo ao brasil que vigora atualmente, nem mesmo conheço sua legislação e seus míticos códigos de honra. Não reconheço seus líderes e nunca vi sua bandeira. Ouvi falar que sua sede administrativa fica em uma das penitenciárias que nós, cidadãos do lado de cá, pensávamos ter erguido para afastar de nossa sociedade os da face de lá.
De qualquer forma, me resta apenas esperar em minha cela, conformado com a punição, até que aquele brasil se chateie por ser uma nação formal, percebendo que tamanha notoriedade faz mal a seus planos. Os quais, ao que me parece, envolvem subjugar, um dia, o brasil do lado de cá.