Moiras Aflitas

Litterae non entrant sine sanguine

Sinto que só a Literatura poderá me salvar da trágica demência ou da cruel mediocridade que vislumbro, ora temeroso ora conformado, no que se me revela futuro. Quando sóbrio, só entre as páginas mofadas de um bom livro encontro refúgio da realidade magarefe que me flanqueia, do mundo arcaico que consome tudo que há além dos logros que eu arrebato do romance para cativar junto a meus próprios vícios.
Trato como relato verídico cada ficção que tomo e, assim, faço da vida tão menos vulgar quanto eu desejar. Acomodo minhas criações entre as arestas cotidianas tal qual idealizo um por um meus convivas, tornando-me cômoda sua existência. Enfim, contenho minha loucura lhe dando formas. Quanto às medidas da nova realidade, eu extraio da obra de outros loucos, sobreviventes de seus respectivos universos.
Mesmo que tardia, creio que essa intimidade possa me trazer proveito, afinal, já tentei encaixar minha silhueta sinuosa em toda espécie de entalhe reto e, claro, eu nunca coube. Porém, munido de um escapismo passível de se dosar, imagino ser viável a convivência às margens da objetividade, afinal, não precisarei deixar de dissimular nem mesmo me acomodarei a este mundo ainda chato, pois me dedicarei a torná-lo cada vez mais tortuoso.