Povo Unido


O campesino, sua expressão heróica e um brado: "o povo, unido, jamais será vencido!" — a cena redentora poderia se passar por uma bela figura, talvez representar um movimento popular de afronta ao que molesta a sociedade, ou um ato arrebatador de uma revolta gloriosa. Mas não neste país. O berro reproduzido exibe o torpor de toda a nação, sua desordem e a esquizofrenia institucional. Tal urro, afinal, foi vociferado por homens e mulheres sedentos por destruir aquilo que atravessasse seu caminho nos corredores do Congresso Nacional. Mais do que tudo, tal frase denuncia que, no Brasil, não há apenas um povo e um Estado, mas, sim, tantos quantos nossa imaginação possa conceber.
Os integrantes do MST são mero gado. Um naco de brasileiros esquecidos pelo Estado e abusados por líderes maliciosos. Sua embriaguez ideológica e sua fragilidade fazem deles termômetro de graduação à incompetência do Executivo, à perversidade do Legislativo e à caquexia do Judiciário. Pois, quando todos os poderes se omitem diante de sucessivas crises de todo os tipos, se torna cômodo fazer de Brasília e das instituições brasileiras um circo. Há, hoje, a impressão generalizada de que tudo o que se faça no país de Lula não sofrerá punição.
Quando se considera um país de povo pacífico e acomodado, que se viu nas mais diversas marés políticas ao longo da história, e que, buscando sua identidade, acabou por eleger uma unanimidade popular, o desarranjo ideológico é perdoável. Se levarmos em conta que temos como redentor um presidente de ideologias tão ambíguas, que ora brada ao lado de vândalos, como os que destruíram as vidraças do Congresso, e ora se alia aos congressistas mais sujos, mantendo inabaláveis os fundamente corruptos de Brasília, toda confusão ideológica é, de fato, digna de perdão.