Saúdo Marx


Saúdo Marx, pois, mesmo quando débil, já encontrando sua brevidade, o homem ousou sonhar, como faz todo jovem tolo, criando para si um mundo próprio, por regra mais belo que este. Sua alma, entretanto, parecia ser tão histriônica que acabou por contagiar esperança; seu mundo, então habitado por ele e nada além, se tornou povoado.
Pouco sei sobre sua ciência, pois sou um idiota, porém, as palpitações que os novos mundos reservam aos jovens, essas, sim, eu posso afirmar que me entusiasmam. Pois Marx cultivou sonhos, tratando homens abandonados pelo acaso como proprietários dos próprios ares, e mais do que um idealista que ousou demais até para os loucos, o velho barbado parece ter se mostrado de admirável inteligência, já que convenceu a tantos sem nem mesmo se declarar um enviado divino.
A ânsia por uma verdade e a fé no universo que ele próprio teceu podem tê-lo feito perder muito da confiança alheia; seus desvarios, embora pudessem ser tratados como sãos, jugulavam os desejos mais impossíveis, desconhecendo zelos e burocracias. Porém, nunca poderão ser tratados como vãos, por ser de boas intenções.
Enfim, saúdo Marx, pois, mesmo quando defrontado com agruras e azedumes, o velho creditou suas loucuras à posteridade, caindo sobre a coerência como uma rocha, ignorando sua própria queda. Marx tratou sonhos como ciência, demoliu lógicas e mostrou ser possível fazer concretos os sonhos.