Mês São

Nosce te ipsum

Chegou-me por línguas senis, pouco ocupadas, porém amparadas por grande vivência, que eu carecia de alguma hombridade, certo punho adulto. E acusaram minha sobriedade de se afogar em embriaguez nos delírios mais infantis, ousaram denunciar minha breve vida como um circo de rebeldia sem fundamento, um picadeiro para fantasias ansiosas por rolar sobre as reais idades. Por acaso, tudo não passa da verdade. Eu sou louco, admito, sou confuso, muitas vezes enlouqueço, confundo. Não trato futuro como indispensável, meu mundo, onde eu me misturo àquilo que há de real, traz um delicioso porém: ele pode e irá mudar para melhor.
Sou uma criança, sempre fui e sempre tive consciência disso (mesmo ante sua própria escassez), mas, por certos dias, tal confissão me incomodara: eu jazo sob vinte anos de devaneios, muitas vezes me embaraço naquilo que não amadurece, não evolui. Aspirações tidas como universais nunca haviam me atravessado: como eu poderei me tornar alguém em vida, um exemplo na morte?
E foi assim, tão suscetível, que acabei por cair na armadilha dessas cabeças decrépitas, ponderei minha loucura, medi minha imprudência, trouxe ao macuco meu horizonte sóbrio, enfim, fiz-me adulto para me tornar aceito, audível por quem se dispusesse a me apresentar a tal idade madura, mas principalmente por ver essa próxima etapa como necessária.
Qual não foi minha aventura na nova idade, a odisséia de uma criança entre os mais ratificados adultos. Sofri por certo tempo, reneguei-me, mas logo minha disposição se pôs a contrariar máximas maduras. Bradaram contra minha loucura e temeram o louco que se crê revolucionário, como se não houvesse nada mais aterrorizante. Logo eu era apenas outro demagogo, trataram como impudica, senão mero verniz, minha ideologia de norte tão comum, tão virtuoso.
Foi aqui que descobri o quanto prezo minha loucura: antes minha rica insanidade que sua pobre lucidez. Sou ao menos uma criança aquariana fidedigna, minha doidice não se faz empecilho, senão diante da sanidade caquética dos encanecidos. Sem loucura não haveria sanidade, pois, parece-me, então, que minha exagerada alienação dá aos velhos a impressão de que são sóbrios mais do que o bastante, dando-lhes certa dose de razão, coisa assim, que se confunde com certo punho adulto.