Revolta Conformista

Tempora mutantur et nos in illis

Somos donos da situação. Eis nossa estratégia, nossa guerrilha silenciosa, a forma de se ser rebelde em tempos modernos: confundir os que se preparam para nos combater fugindo de cada batalha. Esperamos, assim, que os já acomodados sucumbam à loucura por todo o seu preparo se revelar em vão. Pais descabelados por não ver obstinação em seus filhos adolescentes; burocratas com os nós das gravatas desfeitos por não ver passeatas em seus paços.
Quando nossa geração tomar as dores do mundo, daí em diante, só se fará dias monótonos nas avenidas. Policiais sedentos por usar seus cassetetes e jatos dágua; fuzis livres de rosas. Se nos torturaram em outros tempos, insurgiremos com tal tortura psicológica: não haverá passeata, e toda nudez e palavreado serão banalizados. A geração sem sustos e seus fúteis messias se ergueram entre o caos, sem questionar ou cogitar.
Uni-vos, jovens patrícias e maurícios! Abaixem vossas faixas, abandonem vossas pedras, ostentem vossos celulares em vossos pescoços! Façam do sexo rap estadunidense e do sofrimento emocore! Pois, sabemos que nossos antecessores, que se disseram vitoriosos, não só foram derrotados e humilhados, como foram manipulados para crer no contrário. Então, uni-vos, e banalize-vos!
Somos donos da situação. Mesmo que pareça um golpe desesperado, contemplamos os métodos antigos e os vemos falidos, logo, só nos resta inovar. Infelizmente, para nosso desgosto, há aquela triste ciência de que logo nos entregaremos e seremos recrutados pelo exército inimigo. E aceitaremos nosso futuro com a mesma resignação dos velhos guerreiros. Mas aí, então, esperaremos pelos futuros insurgentes já conhecedores de artifícios de combate efetivos.