Terror Civilizado


O Brasil se nega a aceitar sua modernidade. Por modéstia, rejeita qualquer paridade com as grandes nações. Nós, brasileiros, devemos ser mais ambiciosos. Admitamos, por exemplo, ter em nossa companhia a entidade que maravilha as grandes potências do novo século: o terrorismo. Pois, sim, ele também faz parte de nossa branda nação.
O terror tupiniquim não veste mantos ou entoa orações, não tem fundamento ou verniz e não defende causa, meio ou fim. Porém, os terroristas brasileiros são sagazes, pois dominam a ciência capitalista, que exclui sentimentos como religião e honra em nome do progresso corporativo. O que nos assombra, todavia, é que essa tática guerrilheira covarde, que inflige medo às nações poderosas, convive em uma harmonia assustadora com a sociedade brasileira.
Criamos uma nova ordem: o terrorismo civilizado, onde as organizações criminosas convivem em consonância com as instituições que deveriam combatê-la. A convivência entre o Estado brasileiro e os terroristas sem mártires, porém, é frágil e, dessa forma, acaba por contrariar um ou outro interesse.
Quando isso acontece, há conflitos entre os dois poderes (o convencional e o paralelo), e aí, para nossa desgraça, o poder paralelo vence. Ao Estado, derrotado, resta cumprir as exigências do outro. Os cidadãos comuns, então, se transformam em mero escambo, entes marginalizados, indignos do menor apreço. Nada como a triste deferência que há entre a máquina que o povo provém e a arrogante classe de terroristas que a limita. Essa última, sim, consciente do potencial do território brasileiro.