Manifesto Elucidista

Ouço falar, deliciado, da desordem do século que passou... ¿Mas, e o desarranjo contemporâneo, será que não o percebem?

O capitalismo eleva os produtos internos brutos; os centros comerciais têm belos vernizes; as conjecturas, os gráficos são sempre otimistas... Os espíritos, porém, são de uma decadência desoladora.

Confundimos conforto e conformismo; paz e passividade... Pazes malignas, como parasitas que nos sangram, consomem-nos sem que percebamos.

Pois, então, demo-nos ao totalitarismo, ao líder bélico dotado das mais puras intenções... Dissimulemos nossos fins anarquistas nos entregando a homens de toda estirpe de ideologia: deixemos que eles destruam enquanto tentem erguer.

Contestemos este progresso doloroso que nos faz revisitar os desalinhos do passado, mas, agora, tomando-os por prosperidade... Tenhamos consciência de que representamos o futuro do porvir que não sucederá; a inovação que perpetuará o atraso; a evolução que fará retornar ao caos.

¡Fartemo-nos da ração estatal!... Usemos do orgulho de se ser gado; não nos esqueçamos da pátria, a Nação do futuro que não virá: publiquemos as belas estampas de nossa prosperidade; consolemos este povo até que seu país, enfim, rua.

¡Façamos com que se perceba o caos!... Não pela humanidade, mas, sim, em nome da arte; e, para tanto, confundamos mesmo os mais perplexos: façamos haver guerras por biscoitos ou religião.

Sejamos ásperos e inclementes: ajamos como os mais apáticos entre os acomodados, esperando desde já pela nova ordem... Pela perpetuação do pouco de valor que conquistamos ao longo desses duzentos mil anos, tratemos de conspirar por nossa extinção.

Consumamos Deus e drogas até que se esvaiam; até que não nos sobre um grama de fé... Então, lúcidos como bestas, reconstruamos apenas pilares que sustentaram construções sem pecados.

Quando ruírem os paços e obeliscos, terminemos de implodir toda estrutura e convençamos as almas a se explodir... Em nome da conservação do incômodo, questionemos toda paz que vier a se suceder.