Signos Encarnados

Sera sunt baba pos vigesimum, scientia post
trigesimum, divitiae pos quadragesimum

Sou estúpido e impulsivo, mas minhas irreflexões me permitem algumas certezas. Posso garantir, por exemplo, que eu não me tatuarei jamais. Simbolismos não me agradam, pois personificam juízos míopes, encabrestam os sentimentos da platéia e impõe impressões próprias à aclamação comum. Mas para que este parágrafo não seja de todo indecifrável (e sendo legível, que não exponha certa hipocrisia), devo confessar que também me dou aos modismos e, mesmo que preferisse me sobressair declarando meu repúdio às tatuagens por não passarem de alegorias sociais inúteis, assumo que me perturbo tão somente pelo signo eternamente encarnado.
Cicatrizes ou joanetes não poderiam me incomodar, mas tatuagens são deformações tramadas, marcos pueris que crêem que um ciclo mereça ser lembrado. Nós carregamos nossas vidas em nossos corpos, mas não acho certo forçá-los a sustentar um símbolo do humor de outrora, cravando-lhes o passado na pele. Eu admito que me arrependo de tudo aquilo que fiz quando mais jovem, e no futuro me arrependerei de muito do que faço hoje, mas, além de minha notória insegurança há a certeza de que eu amadurecerei, e as verdades do passado, que eu tratava como objetivos, serão meros paralelepípedos no meio do caminho.
Eu admiro certas cicatrizes de meu corpo, mas elas não passam de lembranças de um velho cotidiano, não têm presunção alguma, ao contrário de tatuagens, que se tratam de afirmações precoces. E mesmo que trate meus erros e meus arrependimentos com carinho, não vejo porque dividi-los com quaisquer transeuntes. E, mais do que isso, confundindo insegurança com amadurecimento, não creio ser capaz de escolher um signo que represente meu humor atual, ainda mais aqueles que virei a amparar enquanto minha pele se tornar flácida.