Diáspora Moral

11 E se contava uma piada sobre três robôs com mal-funcionamento que, por um pretexto qualquer, haviam sido pintados de preto.
12 E na segunda-feira seguinte, dois robôs não foram trabalhar, ao que outro apareceu bêbado.
13 Ficou, pois, grato por ser um mero transeunte e não precisar sorrir. Pegou seus amendoins e seguiu seu rumo.
14 E se defrontou com as ancas helênicas de uma mulher rija, que contemplou por calçadas e não pode evitar uma ereção.
15 E como calculou mal sua marcha acabou por se posicionar contíguo. Já que tal dona andava a passos acanhados, viu-se, portanto, obrigado às passadas mais largas.
16 Acelerou, pois, os fêmures, sob pena de caminhar próximo demais ao flanco da mulher distraída.
17 E avistou vindos do sentido oposto dois meninos esguios e bem trajados que se aproximavam num andar de confiança burguesa. Preparou-se, então, ao embate de julgamentos.
18 E sustentou, desde aí, seu peito teso e avigorou os passos o quanto pode, porém, já próximo deles, recolheu-se ao centro de si, curvou as costas e encarou seus calçados.
19 Percebeu, pois, que os garotos se engrandeceram ao passar por seus ombros.
20 E foi abordado por um indigente ríspido que lhe pediu algum dinheiro para remediar um câncer desesperado qualquer.
21 E negou, afinal, não lhe restava níquel que fosse, senão uma nota maior que as pretensões de ambos.
22 Sentiu-se, pois, horrendo e se desculpou. Diante do desapontamento áspero, justificou-se outra vez pelo pecado cometido, mas nada podia fazer além de se desculpar uma última vez.
23 E os urros ensandecidos que vinham do grande galpão verde conduziram-no através da rua. Estacou, então, diante de um templo evangélico.
24 E um mulato de ombros largos que envergava um terno negro abordou-o com simpatia, convidando-o ao culto. Mas ao perceber que se tratava de um curioso mau-vestido, intumesceu sua voz.
25 Ouviu, pois, em tom de ameaça, que seria bem recebido, como que exigissem que deixasse o pátio. Saiu e se encontrou conformado por sua loucura solitária.