Culpa Nata

Anulus aureus in nare suilla

Carrego chumbo sobre os ombros, pois nasci burguês. Beneficiado entre tanta miséria, deparo-me com dilemas dispensáveis ao jovem proletário. Não sei se devo usufruir do privilégio, já que o mundo foi talhado aos ricos, mas o Céu só se permite aos pobres. Caso redimido, vejo-me fadado ao limbo dos malditos justos, mesmo que leve uma vida virtuosa.
Eu não posso ser feliz, já que há tantos condenados à depravação da pobreza material ao meu redor. Também não posso ser triste, pois desdenharia da dádiva ocasional que Deus derramou justo sobre minha testa.
Entre tanta confusão, rogo que permitam que, firmado em minha consciência angustiada, eu me poste mais à esquerda política, entregando apoio a movimentos que se exibam revolucionários. Perdoem-me, enfim, caso tal redenção desesperada acabe por ocasionar ainda mais almas encarnadas no antro social dos propensos ao Paraíso.