Certas Crianças

Factes tua computat annos

Ao fugir, muitas vezes me confronto com certas crianças. Em algumas ocasiões, consolo-me com sua presença, mesmo sabendo que as assombro, em outras, sinto-me tão amedrontado quanto elas. Pois não posso dá-las coisa alguma, e a mim só resta tomar lembranças de um passado de presumida paz, memórias em meio a projeções opacas, onde mesmo temores são encarados como contentamento.
Crianças que jogam pelúcias pelos cantos, que se enfiam em vãos estranhos, que comem enquanto saltitam. Crianças que correm por cômodos inusitados, que chutam toda esfera que lhes aparece, que se escondem sob as cobertas. Crianças que conseguem confiar, que cultivam esperança de algo maior, que não têm pretensão de não ser criança.
Observo-as da calçada mais sombria ou dum canto inóspito da sala. Quando se excedem e se dão conta de minha presença, lançam um olhar de soslaio, como se esperassem por reprovação. Faço-me impassível, mas, ainda assim, as crianças contêm os sorrisos o quanto podem. Logo, vão se deixar eufóricas novamente, e gargalharão atrevidas, pois não sabem que presenciam a si próprias num futuro amargo.