Abismo Adiante

Abyssus abyssum invocat

Sou tão mais fundo que quando me deparei com o que há sob minhas convenções eu não avistei nada senão o breu de um abismo enigmático. Por saber que eu me confrontaria com humores ainda mais vergonhosos do que os que habitam a superfície, não pude explorá-lo, logo, restou-me como conforto me apegar à mais oportunista fé na incerteza.
Hoje, sofro por ter me deparado com o precipício, arrependo-me por ter caminhado para longe da campina da mediocridade, lastimo cada passo dado rumo à perdição inevitável. Quisera eu não ter buscado a lucidez, não ter me confrontado, no último terço da jornada, com a presença tátil da incerteza, posta sentada sobre um trono de vermes, com as vestes decompostas e as vísceras ainda banqueteando os carniceiros.

Padeço da conquista do desconhecido que, afinal, parece ter sido forjado por mim. Agora, não posso retornar para onde não pertenço mais, nem conseguiria ousar um passo adiante, entregando-me à queda, portanto, cá estou sofrendo da aflição da descoberta que se confunde com as sombras, para sempre diante do abismo de minha essência.