Voto Perpétuo

Finis alterius malis gradus est futuri

Corro deixando nacos dos pés pelo asfalto tenebroso, debando daquele que me assombra desde que tenho memória. Sei que logo eu serei alcançado, mas prolongo o suplício. Fujo, pois tomado por excitação me esqueço do terror que acompanha a paz cotidiana.
Corro tanto quanto posso, até estirar os músculos, banhar-me em suor e entorpecer toda percepção. Persigo aquele que me ilude desde que tenho pudor. Sei que suas passadas são tão largas quanto são curtas as minhas pretensões, mas nutro seu prazer em tripudiar sobre meu desespero. Sigo-o, pois, assim, motivo-me quanto a minha própria fuga.
Exausto, largo-me de joelhos e imploro por um armistício. Então, deixo que o Passado devore um bocado de minha alma, confiando em sua necessidade de me consumir por toda a vida, ao que o Futuro goza ao ver derramar os excessos que escorrem dos lábios grotescos do outro. Mesmo dilacerado sobrevivo, e sobreviverei enquanto amparar meus algozes, sustentando-os para que me consumam e, em seguida, deixem-me ir, dando início a novos tumultos.