Ensaio Anatômico

Laedere facile, mederi difficile

Eis anseios frustrantes: querer libertar cada dedo de cada mão, querer arrancar cada fibra de cada nervo; arrebatar cada glândula de cada tecido e torcê-las, banhando os pés com malícias inconvenientes; decepar meu pênis, castrando qualquer tentativa de fuga do desespero.
Deformar os músculos da minha tez de forma que não saibam se rio ou choro, confundindo meus próprios sentimentos quando confrontado com espelhos; arrancar meus globos oculares, enfiá-los pela boca extorquindo os dentes com os punhos, rompendo os limites da laringe, e confrontá-los com minhas blasfêmias.
Sacar cada costela, atirando-me com ânsia aos músculos intercostais, chispando os dentes contra as sobras carnosas dos ossos; desamparar meu sangue do baço e colorir os azulejos com as emulsões polpudas de meu fígado de memórias angustiantes.
Tamborilar meu diafragma, estocando com força maior, até que esgarce, fendendo-se como que cortinas circenses, exibindo agruras cômicas; chupar meu apêndice como que jabuticaba; apartar meu ânus com meus fêmures; estender meu intestino, laçá-lo às luminárias e, já atado pelo cachaço, destituir os esteios das solas.