Novelos Férreos

Amici, ad qui venisti?

Sua voz me assalta e me causa vertigens. Caio e me confundo com as tramas oblíquas de meus vínculos sociais, que logo serão rompidas pelas convulsões frenéticas de meu ego. Gracejos se distorcem entre os gases exalados pelo pavor; receio ter partes de mim tomadas pelo interlocutor e restituídas deformadas e irreconhecíveis. Da ignorância ou da prepotência, intrínsecas aos viventes, ressalto meu conhecimento de seus mecanismos e minha negação em contorná-los. Sou, pois, pior do que qualquer outro homem ignorante de si próprio, já que me creio conhecedor da nobre ciência da ignorância.
Por razão que não pretendo elucidar, decidi tratar de meus laços afetivos. Serão ao menos dois textos, tão cansativos e egoístas quanto todos os outros. Começo por dizer que o próprio afeto soa retórico para mim, não passando de mero acaso que lesa minha rotina. Condiciono meu contato com outros entes aos momentos de torpor, já que quando os defronto, nunca os consigo distinguir. Por isso, minhas parcas amizades são amparadas pela embriaguez, inaugurando aquilo que trato por afinidade alcoólica.
Se extraio prazer da Literatura, os habitantes de meu cotidiano são analfabetos; se me curvo à introspecção, meus convivas ocasionais se dão à euforia menos cordial. Combinamos por nosso desprazer pela vida, mas enquanto eu me afogo em nobre melancolia, meus companheiros se dão aos alucinógenos simplesmente por reconhecer sua inaptidão ao que quer que seja. Porém, como nos encontramos para bradar evoés, suas divagações imbecis simulam sintaxes a minha borracheira.
Quanto às garotas, apelo para que não exijam que eu exiba minhas reses, pois tive um único romance em minha vida. Poderia ter acumulados outras aventuras, mas aí não teria os dramas do amor singular a meu dispor. Se nossa paixão houvesse terminado em adagas ou pistolas, eu me permitiria seguir em busca de novas comoções, mas nosso rompimento foi tristemente amistoso. Não sofro por possuir apenas bocetas, sendo injuriado pela desconfiança das pequenas. Por ter tantos vértices, já não me identifico com as garotas simplórias que me rodeiam, e torço por encontrar uma dona balzaquiana que me dê liberdades e me demonstre métodos. Por hoje, confundo as normas da afeição enquanto me esqueço da funcionalidade dos orifícios.