Cadáveres Celestes

Finis coronat opus

Sob uma lua cheia indecorosa, eu, ora como poeta ora como lobisomem, cavalguei sobre o lombo de minhas frustrações, caindo bêbado numa sarjeta indigente, acomodando-me sobre o suor; os olhos embriagados, então, partiram em busca de referência e se depararam com as estrelas, muitas delas mortas há anos-luz, cadáveres celestes que se perpetuam, guiando homens pervertidos a mundos ingênuos.
Pobres estrelas, que não têm qualquer privacidade, bibelôs desalmados colecionados pelo homem, supostas fontes de inspiração a criaturas torpes, guias involuntárias do predador civilizado. ¿Se pudessem escolher entre se aniquilar logo ou se deixar abusar, será que cederiam pela vaidade?
Supus ser possível, também ao homem, fazer-se admirável depois da morte, ¿mas de que valeria restar como imagem ou memória, se tanto não atribui orgulho ou gozo? Mais vale morrer abraçado a tudo de si, levando ao túmulo contentamentos e reprovações. Era dia de coleta de lixo, minhas pretensões estavam envoltas num manto de fedor.