Ser Ordinário

Associat dives tumidos opulentia fastus

Se meus humores fossem apaziguados, hoje eu estaria me graduando como odontólogo. Trabalharia curvado sobre os hálitos da comodidade. Logo, ganharia bem, compraria um belo carro e foderia belas mulheres. Mais tarde, adquiriria uma bela casa para viver ao lado de uma bela esposa, que pariria belas crianças, que distrairiam meu belo matrimônio enquanto eu comeria uma bela amante.
Mas eu não fui forjado para alegrias burguesas. Escrevo porque, acomodado sobre minha afasia burguesa, não faço nada mais. Como não me permito ser feliz, admito me tratar como especial, como se requisitasse compensação por minha desventura. E, por ter que ser distinto, exponho toda sorte de infortúnios quando escrevo.
Torço por viver em uma civilização sem qualquer escrúpulo. Quando saio às ruas dissimulo, e me incomodo por não saber se todos disfarçam seus sentimentos. Convenço-me de que sou tão caridoso e viciado quanto todo religioso. Cego-me, e trato meus anseios como ordinários. Então, narro-me como se eu fosse natural.