Whitefaced Clown

Prudens in loquendo est tardus

¿Quem diria que eu, esta criatura de melancolia desmedida, ainda seria tratado com expectativas cômicas? Pois acontece que hoje sou um disputado piadista. Mas não culpo os expectadores desavisados, já que fui eu quem deu pretexto a tal confusão. E isso por conviver comigo mais do que se faz suportável e conhecer minha vertente áspera e tóxica.
Como receio ferir os convivas com lucidez ou loucuras inconvenientes demais, travisto-me como matéria palpável e, em muitas ocasiões, assimilo e lapido a estupidez comum, refletindo-a numa encenação patética. Sou aquele mico que saracoteia em frente à platéia. O pobre primata feito cativo e condenado às vestes e trejeitos do espectador não muito racional.
É assim que, nas parcas horas sociais do dia, eu me poupo da convivência com meu id, deformando-o em massa irreconhecível. O preço dessa liberdade viciosa, porém, já me incomoda. Não me importo por me flagrar irreconhecível diante das expectativas alheias, mas, às vezes, após ser mera marionete da necessidade social, questiono as tentativas de me trazer de volta às bases de meu caráter. Temo que, quando não restar-lhes vigor, eu possa acabar me acomodando entre as planícies menos tortuosas da mediocridade.